segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Colaboração científica Belga



                                      Paul Coremans, Jair Inácio, Fernando Barreto...

"O Instituto Real do Patrimônio Artístico de Bruxelas (IRPA),
antigo ACL (Archives Centrales Iconographiques d’Art et le
Laboratoire Central), surgiu oficialmente em 1948, ano em que
tornou-se independente em nível administrativo do Museu Real
de Arte e História de Bruxelas. Entretanto, remontando no tempo,
as atividades do IRPA se iniciaram em 1934, com a chegada de
Paul Coremans (1908-1965) para os departamentos de documentação
e do laboratório de pesquisas físico-químicas do Museu Real.
Doutor em química, Paul Coremans implementou projetos de
restauração envolvendo os principais museus belgas. Desejando
que seus departamentos crescessem cientificamente, direcionou
a conservação de obras de arte segundo uma metodologia científica,
baseada no estudo exaustivo de seus materiais constitutivos.
Preocupado com a comunicação, criou uma rede de relações com
universidades da Europa, dos Estados Unidos e demais centros de
conservação. O surgimento do IRPA é contemporâneo de instituições
internacionais pioneiras, tais como o Courtauld Institute,
em Londres (1932), e o Istituto Centrale per il Restauro (ICR),
de Roma, criado por Cesare Brandi em 1939.
Como diretor do IRPA, Coremans conciliou duas áreas distintas,
mas complementares: a documentação e a análise científica.
Deu início a uma vasta campanha de inventário fotográfico do
patrimônio da Bélgica, que, apesar de ser um país pequeno, concentra
uma riqueza excepcional. Essas campanhas de inventário
aceleraram-se durante o período da Segunda Guerra Mundial.
Estima-se que entre 1941 e 1945 mais de 160 mil fotografias foram
realizadas, e isto levando em conta o racionamento de gasolina,
do material fotográfico em geral e dos constantes bombardeios.
Esse acervo fotográfico foi de grande utilidade uma vez terminada
a guerra, pois serviu para uma avaliação precisa do estado
de conservação do patrimônio móvel e imóvel e para o desenvolvimento
de uma estratégia de recuperação. Algumas  fotografias
são, em casos extremos, o único testemunho de objetos
completamente destruídos pela guerra (Masschelein-Kleiner, p.
18). Todo esse material fotográfico é, ainda hoje, uma excelente
base de informação para restauradores e pesquisadores em geral.
Se por um lado a guerra engendrou a deterioração do patrimônio,
por outro, e paradoxalmente, ela promulgou, nos anos seguintes,
o desenvolvimento de teorias relativas à sua recuperação.
Os anos do pós-guerra foram vividos, em nível mundial, como um
período de reflexão, de avaliação e de procura de critérios na área
do patrimônio. Sem dúvida, a experiência desse inventário, realizado
em tempos difíceis, com uma equipe composta de artistas, de
historiadores de arte e fotógrafos, influenciou o desenvolvimento
de uma prática baseada na interdisciplinaridade, pedra angular
do trabalho do IRPA.
No nível nacional, o IRPA apoiou a criação do Centro Nacional
de Pesquisas ‘Primitifs flamands’ (1949), cujos objetivos
eram constituir um inventário, um arquivo fotográfico e o estudo
da produção de pintura do século XV nos antigos países baixos
meridionais (atual território belga). No cenário internacional, o
IRPA participou de momentos históricos, como da criação do
International Council of Museums (ICOM) em 1946, do International
Institute for Conservation of Historic and Artistic Works
(IIC) em 1950, do International Centre for the Study of the Preservation
and Restoration of Cultural Property (ICCROM) em
1959 e ainda e do International Council on Monuments and
Sites (ICOMOS) em 1964.
Em 1957, o projeto de interdisciplinaridade idealizado por Coremans
é oficializado e surge a atual denominação: Institut Royal
du Patrimoine Artistique/Koninklijk Instituut voor het Kunstpatrimonium.
Historiadores de arte, restauradores, químicos, físicos
trabalham juntos para o estudo, o inventário e a conservação
do patrimônio artístico. O projeto do edifício independente com
8.700 m2, separando fisicamente cada área de trabalho, foi lançado
e a pedra fundamental foi posta em 9 de maio de 1959 (Masschelein-
Kleiner, p. 25). Em 1963, a química Liliane Masschelein
-Kleiner integra a equipe do laboratório, dedicando-se às análises
dos materiais orgânicos, até então difíceis de serem identificados
pela microscopia e pela microquímica. Os laboratórios adquiriram,
a partir da década de 60, um equipamento extremamente
moderno para a realização de exames científicos."...

Por: Erika Benati Rabelo

Nenhum comentário:

Postar um comentário