Paul Coremans, Jair Inácio, Fernando Barreto...
"O Instituto Real do
Patrimônio Artístico de Bruxelas (IRPA),
antigo ACL (Archives
Centrales Iconographiques d’Art et le
Laboratoire Central),
surgiu oficialmente em 1948, ano em que
tornou-se independente
em nível administrativo do Museu Real
de Arte e História de
Bruxelas. Entretanto, remontando no tempo,
as atividades do IRPA se
iniciaram em 1934, com a chegada de
Paul Coremans
(1908-1965) para os departamentos de documentação
e do laboratório de
pesquisas físico-químicas do Museu Real.
Doutor em química, Paul
Coremans implementou projetos de
restauração envolvendo
os principais museus belgas. Desejando
que seus departamentos
crescessem cientificamente, direcionou
a conservação de obras
de arte segundo uma metodologia científica,
baseada no estudo
exaustivo de seus materiais constitutivos.
Preocupado com a
comunicação, criou uma rede de relações com
universidades da Europa,
dos Estados Unidos e demais centros de
conservação. O
surgimento do IRPA é contemporâneo de instituições
internacionais pioneiras,
tais como o Courtauld Institute,
em Londres (1932), e o
Istituto Centrale per il Restauro (ICR),
de Roma, criado por
Cesare Brandi em 1939.
Como diretor do IRPA,
Coremans conciliou duas áreas distintas,
mas complementares: a
documentação e a análise científica.
Deu início a uma vasta
campanha de inventário fotográfico do
patrimônio da Bélgica,
que, apesar de ser um país pequeno, concentra
uma riqueza excepcional.
Essas campanhas de inventário
aceleraram-se durante o
período da Segunda Guerra Mundial.
Estima-se que entre 1941
e 1945 mais de 160 mil fotografias foram
realizadas, e isto
levando em conta o racionamento de gasolina,
do material fotográfico
em geral e dos constantes bombardeios.
Esse acervo fotográfico
foi de grande utilidade uma vez terminada
a guerra, pois serviu
para uma avaliação precisa do estado
de conservação do
patrimônio móvel e imóvel e para o desenvolvimento
de uma estratégia de
recuperação. Algumas fotografias
são, em casos extremos,
o único testemunho de objetos
completamente destruídos
pela guerra (Masschelein-Kleiner, p.
18). Todo esse material
fotográfico é, ainda hoje, uma excelente
base de informação para
restauradores e pesquisadores em geral.
Se por um lado a guerra
engendrou a deterioração do patrimônio,
por outro, e
paradoxalmente, ela promulgou, nos anos seguintes,
o desenvolvimento de
teorias relativas à sua recuperação.
Os anos do pós-guerra
foram vividos, em nível mundial, como um
período de reflexão, de
avaliação e de procura de critérios na área
do patrimônio. Sem
dúvida, a experiência desse inventário, realizado
em tempos difíceis, com
uma equipe composta de artistas, de
historiadores de arte e
fotógrafos, influenciou o desenvolvimento
de uma prática baseada
na interdisciplinaridade, pedra angular
do trabalho do IRPA.
No nível nacional, o
IRPA apoiou a criação do Centro Nacional
de Pesquisas ‘Primitifs
flamands’ (1949), cujos objetivos
eram constituir um
inventário, um arquivo fotográfico e o estudo
da produção de pintura
do século XV nos antigos países baixos
meridionais (atual
território belga). No cenário internacional, o
IRPA participou de
momentos históricos, como da criação do
International Council of
Museums (ICOM) em 1946, do International
Institute for
Conservation of Historic and Artistic Works
(IIC) em 1950, do
International Centre for the Study of the Preservation
and Restoration of
Cultural Property (ICCROM) em
1959 e ainda e do
International Council on Monuments and
Sites (ICOMOS) em 1964.
Em 1957, o projeto de
interdisciplinaridade idealizado por Coremans
é oficializado e surge a
atual denominação: Institut Royal
du Patrimoine
Artistique/Koninklijk Instituut voor het Kunstpatrimonium.
Historiadores de arte,
restauradores, químicos, físicos
trabalham juntos para o
estudo, o inventário e a conservação
do patrimônio artístico.
O projeto do edifício independente com
8.700 m2, separando fisicamente
cada área de trabalho, foi lançado
e a pedra fundamental
foi posta em 9 de maio de 1959 (Masschelein-
Kleiner, p. 25). Em
1963, a química Liliane Masschelein
-Kleiner integra a
equipe do laboratório, dedicando-se às análises
dos materiais orgânicos,
até então difíceis de serem identificados
pela microscopia e pela
microquímica. Os laboratórios adquiriram,
a partir da década de
60, um equipamento extremamente
moderno para a realização de exames
científicos."...
Por: Erika Benati Rabelo
Por: Erika Benati Rabelo
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