quinta-feira, 29 de junho de 2017

COMEÇA A SE FORMAR UM RESTAURADOR


         
                                                 Por Isabel Cristina Nóbrega.


"No distrito de Antônio Pereira, em Ouro Preto, Estado de Minas Gerais, a 2 de agosto de 1932, nasce Jair Afonso Inácio. Filho de
pais negros, Gabriel de Paula Inácio e Antônia Margarida de Souza, ele foi
o penúltimo dos cinco filhos: Célio, José Flaviano, Maria do Carmo e Paulo.
Seu pai, que tocava pistom em uma banda e era ferreiro de profissão, falece aos trinta e três anos, deixando o filho mais velho com
apenas seis anos de idade.
A mãe, preocupada com sua saúde que não estava boa e com a falta de recursos para se tratar em Antônio Pereira, desabafa com
uma amiga e ouve como consolo a idéia de procurar a irmã que morava em Ouro Preto para, quem sabe, dividirem a casa.
Assim fez Antônia. Conversou com Juscelina e não obteve resposta de imediato, pois o assunto teria que ser tratado com o marido.
Voltou outro dia e casualmente, na rua, encontrou com uma senhora que participara da conversa com a irmã, no encontro anterior.   A mulher expôs a angústia em que Juscelina se encontrava: ela temia dividir a casa, pois
achava que Antônia não teria condições de ajudar na despesa, que encarecia muito.
De pronto Antônia foi pedir ajuda, mas dessa vez uma ajuda divina: foi rezar na Igreja Santa Efigênia.
Na volta, ainda sem rumo e bastante distraída, passou em frente à casa da irmã. Juscelina a chamou. Conversaram. A irmã prontificou-se a ajudá-la buscando outra solução. Assim, saíram as duas prontas para
pedir auxílio a outra pessoa.
No caminho encontraram uma amiga, que perguntou a Antônia o porquê daquela aparência tão abatida. Ela explicou toda a
situação. A amiga, comovida, disse que a levaria à casa de uma outra
amiga de Antônia, que possuía uma casa humilde e que estava desocupada. Seguiram as três na expectativa de um bom resultado.
As quatro conversaram e chegaram a uma conclusão: a casa seria alugada, por pouco tempo, até Antônia conseguir outra
alternativa, e Juscelina financiaria o aluguel. Assim, Antônia muda-se para a cidade um ano após a morte de seu marido. Como meio de transporte para a mudança, “burros de
armazém” com caixotes, um de cada lado, serviram como solução. A mãe, montada no animal, carregava uma criança, enquanto as quatro outras distribuíam-se nas duas cabines improvisadas. Seguiram rumo a Ouro Preto, onde uma vida sofrida os aguardava.
Certa ocasião, Antônia conversando com a Dra Eponina, contou-lhe sobre sua nova casa. Eponina, sabendo que ela não possuía dinheiro para o aluguel, se propôs a pagá-lo.   Antônia não mencionara que a despesa seria por conta da irmã e, dessa maneira,
pouparia Juscelina, que não possuía boas condições financeiras.
Em outro momento, Antônia contou para Juscelina seu desejo de possuir sua própria casa. A irmã, sem querer desanimá-la, disse-lhe que seria difícil. Antônia, sempre com fé, respondeu que Santa Efigênia
cuidaria disso.
Passado algum tempo, Eponina Ruas procurou Antônia para oferecer-lhe uma casa. Antônia, apesar de bastante agradecida, não aceitou, pois a casa ficava muito próxima a da irmã, e ela não gostaria de incomodá-la, sabendo que era muito preocupada e, certamente, estaria
sempre cercando-a de cuidados, o que poderia causar transtornos às duas.
Antônia pensou em outra solução: procurou o prefeito João Veloso e pediu-lhe permissão para construir um barraco no Morro da
Queimada. O prefeito permitiu.
A pedido de Antônia, um padre providenciou-lhe um atestado de pobreza. Com esse documento e desejosa de ter seu lar, ela
saiu em busca de dinheiro para a obra: pedia um a um.
O marido de Juscelina, que era pedreiro, e alguns amigos,Eponina Ruas – Farmacêutica formada pela Escola de Farmácia de Ouro Preto, médica formada pela Faculdade Nacional de Medicina da Universidade do Brasil,
ajudaram a “levantar o barraco”.             Os trabalhadores levavam seus próprios
lanches, pois Antônia não podia sequer servi-lhes algo para comer.
Já na casa construída, nos dias de chuva, as crianças brincavam com lata de sardinha vazia, como se fosse barco, quando a casa
ficava inundada.
Para o sustento da família, a mãe não media esforços,trabalhava em serviços humildes: empregada doméstica e lavadeira.           Sem alternativa, Jair e seus irmãos, precocemente, auxiliavam no pagamento
das despesas da casa. Como ajudante de cozinha, ele trabalhou nas casas
de Elisa Lacerda, de Manoel Sereiro e de Eponina Ruas...

                                                                

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