...A idéia de realizar esta pesquisa nasceu antes mesmo de
pensarmos em um trabalho acadêmico. Quando ainda cursávamos
“Restauração de Obras de Arte”, na Fundação de Arte de Ouro Preto –
FAOP, em 1987, sentíamos a necessidade de ser feito um trabalho teórico
sobre a questão da preservação dos “Bens Móveis e Integrados” no Brasil.
Acreditamos, portanto, que esta dissertação, apesar de
não pretender tratar o assunto na sua total complexidade, oferecerá uma
contribuição para esse estudo.
Conhecendo a obra de Jair Afonso, é fácil compreender
sua importância dentro da historiografia da preservação dos nossos bens
culturais. Com trabalho árduo, ele trouxe à luz pinturas, talhas e esculturas
do período barroco, que haviam sido encobertas, no século XIX.
Jair enfrentou todas as dificuldades advindas de um
empreendimento novo como era a restauração naquele período, no Brasil.
Teve problemas especialmente na área financeira, pois a
verba destinada ao Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional –
SPHAN era bastante reduzida, tanto para os gastos nas obras, como para o
pagamento do pessoal. A falta de equipamento adequado obrigava-o a
adaptações. A não organização das funções fazia com que trabalhasse
com afinco na restauração e supervisão das obras, durante o dia, e na
administração da verba, à noite.
No Brasil, a área de restauração de “Bens Móveis e
Integrados” surge em 1947, quando Edson Motta retorna ao país, depois de
especializar-se em “Restauração” nos EUA, e implanta o “
Setor de Recuperação” no SPHAN.
Jair Inácio inicia sua carreira na cidade de Ouro Preto,
Minas Gerais, ainda adolescente. Começa como auxiliar de Estevão de
Sousa, que por sua vez era subordinado a Edson Motta.
Jair Afonso Inácio contribuiu para a formação do alicerce
do que vem sendo construído na área de preservação de “Bens Móveis e
Integrados”, no Brasil. Deve, portanto, ser considerado como um dos
precursores da restauração/conservação em nosso país.
Para a elaboração deste trabalho, usamos da pesquisa
documental e da pesquisa de campo.
Assim, primeiramente contatamos a família do restaurador.
Gentilmente ela nos emprestou um caderno, grande, em que Jair Inácio
colocava as entrevistas de jornais e revistas das quais participou (após sua
morte a família ainda continuou a catalogação).
Nosso procedimento seguinte foi a pesquisa no arquivo do
Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN, no Rio de
Janeiro, onde encontramos alguns textos sobre Jair e documentos sobre os
monumentos restaurados em Minas Gerais.
Pesquisamos, ainda, o arquivo particular da família, onde
encontramos precioso acervo documental: relatórios sobre os monumentos,
apostilas de cursos que Jair ministrava, rascunhos e cópias de cartas,
reflexões sobre os monumentos restaurados, sobre arte e religião, laudos
de obras de arte, síntese de textos de arte, pesquisa sobre iconografia
cristã e artistas barrocos, fotografias, entre outros.
Fomos, também, ao IPHAN – Belo Horizonte, onde pouco
material encontramos, pois na época em que Jair Inácio trabalhava no
“Patrimônio”, seu contato era diretamente com o IPHAN – Rio de Janeiro.
A última etapa de nossa pesquisa foram entrevistas com
parentes, amigos, ex-alunos e colegas de trabalho do restaurador, processo
que nos esclareceu muitos pontos da vida de Jair Inácio...