"Na historiografia referente à DPHAN, os contatos entre a DPHAN e a UNESCO aparecem nesse viés de auxílio especializado e cooperação técnica, com ênfase no interesse do primeiro em buscar, junto a essa Organização, diretrizes para “reformular e reforçar sua atuação” no que dizia respeito ao patrimônio cultural, em vista da industrialização acentuada que marcou as décadas de 1950 e 1960.
Maria
Cecília Londres da Fonseca, em seu O patrimônio em processo, deu
destaque às tensões que surgiram no âmbito da Instituição no que concernia à
“preservação das cidades históricas e seus centros ”, dada a desarticulação dos “processos espontâneos de preservação do
patrimônio”, processos esses definidos pela historiografia como culturais, em
oposição a critérios mais voltados para uma política estatal de preservação. Sublima-se a demanda da DPHAN por uma “nova política para a conservação do patrimônio”
frente aos problemas urbanos advindos da arrancada industrial que impedia que a
atuação do Instituto se voltasse principalmente, como até então ocorria, para
“problemas de Anais do XXVI Simpósio Nacional História”.
Não é
à toa, portanto, que Coremans inicia a análise dos problemas enfrentados pela
DPHAN. Descrevendo o Brasil como uma “colmeia zumbidora” (COREMANS, 1964a, p.
4), em menção a obras de construção civil, principalmente rodovias voltadas para
o interior do país e transito dentro das cidades históricas. O perito belga também procurou mostrar sua preocupação em
relação ao fato de tais obras parecerem “menosprezar o passado”, sublinhando,
porém, os esforços que a DPHAN empregava em defesa do patrimônio histórico e
artístico, com especial destaque à atuação do diretor Rodrigo Melo Franco de
Andrade, descrito por Coremans como a própria base e estrutura da Diretoria.
No
relatório, o perito Paul Coremans procurou indicar os monumentos, sítios e instituições –
principalmente museus – visitados; também traçou uma breve análise da situação
do patrimônio histórico e artístico brasileiro naquele momento e deteve-se na
indicação de medidas a serem tomadas pelo órgão responsável por sua proteção –
a DPHAN. Entre essas
medidas, sugeriu atividades como um amplo inventário fotográfico, sem o qual,
argumentou, os tombamentos e a conservação dos bens não eram possíveis; a
colaboração entre as ciências exatas e humanas – leia-se: física e química, de
um lado; história da arte do outro – na orientação das pesquisas de
conservação; a busca de assistência técnica junto ao IRPA belga, à UNESCO, ao
ICOM, ao Centro da UNESCO em Roma; o fomento ao turismo; e a própria
reestruturação da DPHAN, com aumento do orçamento, do pessoal, e com “autonomia
de pensamento e gestão” em relação ao governo central. Elogiou a participação
de um técnico da DPHAN, Jair Afonso Inácio, como bolsista do IRPA entre 1961 e
1962, defendendo a participação de mais técnicos da DPHAN nos cursos de
treinamento oferecidos pela instituição que então dirigia."
Por CLAUDIA F. BAETA LEAL
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