A convivência com pessoas e realizações
do passado, oferece-nos condições
de
viver o momento presente e de fazer chegar
toda a riqueza do passado, às gerações do futuro, que não
podem desconhecer as matrizes de sua história, escritas com o
esforço e a arte de antepassados que teriam ficado na lista dos ilustres desconhecidos. Não fora o empenho de historiadores que, através de pesquisas serias, colocaram em relevo artistas como Antônio Francisco
Lisboa, o Aleijadinho, cuja arte atrai numerosos turistas,
sábios admiradores de tudo
o que é, verdadeiramente, belo e artístico.
Tive o privilégio de conviver
com o talentoso restaurador Jair Inácio. Conheci os
seus avós, os seus pais e os seus irmãos. Todos eles, dedicados
paroquianos, da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição,
em Ouro Preto, da qual fui vigário, durante 26 anos. Quando Jair
Inácio trabalhava na restauração da Igreja de São Francisco de
Assis, deparou com um conjunto de riscos
arquitetônicos, em uma das paredes do corredor que dá acesso da nave à
sacristia, ao lado da capela mor. Situa-se na ala, à esquerda de quem
entra no templo. O talentoso restaurador teve a feliz inspiração de
deixar aqueles riscos expostos, depois de remover, cuidadosamente,
toda a massa que, até então, os encobria. Na parede onde se
situam aqueles riscos, podemos observar, bem nítidas, as marcas
dos ponteiros, dos compassos de ponta seca, as linhas de
concordância, segundo observação do professor de arquitetura da FAU/USP,
Dr. Benedito Lima de Toledo, em sua obra Esplendor do Barroco
Luso-Brasileiro. Jamais se apagará da minha memória aquele momento
em que o meu amigo Jair Inácio me levou a conhecer aquela
sua descoberta! A partir daquele momento, como responsável pela
Igreja de São Francisco de Assis e pelo Museu Aleijadinho, na
condição de pároco e de fundador do Museu Aleijadinho, passei a
incluir aquela extraordinária descoberta, no roteiro de visitação
turística da Igreja de São Francisco de Assis. Segundo o professor de
arquitetura da FAU/USP, Benedito Lima Toledo, aqueles riscos na parede
do corredor, de excepcional importância para a compreensão do
processo construtivo das igrejas mineiras do Sec.XVIII, seriam
riscos do frontão da igreja de São Francisco de Assis de Ouro Preto. Outros
riscos, traços e marcas, provavelmente usados na confecção de
moldes e peças da construção, foram posteriormente encontra-os,
no piso do consistório (sala de reuniões da Ordem Franciscana)
desta Igreja de São Francisco de Assis de Ouro Preto, por atentos pesquisadores
das práticas e técnicas construtivas tradicionais. Creio não ser irrelevante chamar a atenção
para esses detalhes dos riscos arquitetônicos,
porquanto, trata-se de um tema de fundamental importância
para a compreensão dos canteiros de obras, de um modo geral e da
cantaria mineira, de modo especial.
Dom Barroso